sábado, 8 de janeiro de 2011

Dom Silvério


Pequena Dom Silvério,
por quanto tempo fui enganado por você?
Acreditava em sua mágia,
em seu lindo entardecer.

Eu via em suas ruas,
algo além do que existia.
Tudo era colorido,
carregado de alegria.

Rio de Peixes, adro da Igreja,
já não existe mais graça.
Perdeu para mim todo o sentido,
de andar aos sabados em sua praça.

Rua do Campo cresceu,
deixou de ser como era.
Já não existe o campinho de bola
pessoas olhando da janela.

Brincar no barranco,
de pique esconde e pega bandeira.
Passar trote na rádio,
pegar manga na sementeira.

Tudo isso acabou,
e não foi porque eu não vivo mais lá.
A cidade continua a mesma
quase tudo em seu lugar.

Cego eu não percebia,
o segredo que muitos viam.
O encanto não estava na cidade,
e sim nas pessoas que lá viviam.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O Passado



Qual bom seria se eu pudesse
ao velho tempo voltar?
Fazer tudo que deixei de fazer.
mudar as coisas de lugar?

Eu tentaria ser mais serio,
e o meu dente não quebrar.
Conheceria mais o meu pai,
jogaria bola sem parar.

Estudaria sozinho a matemática,
faria dona Marlene ter orgulho de mim.
Tocaria trompete na banda,
falaria tudo que estivesse afim.

Gostaria de mais meninas,
aprimoraria o meu cantar.
Revidaria os tapas do Moisés,
não deixaria um dia de sonhar.

Comeria mais mangas em dezembro,
aproveitaria mais o natal.
Seria mais sorridente,
brincaria mais no quintal.

Procuraria um trabalho mais cedo,
jogaria muito menos PS2.
Conversaria todos os dias no passeio
não me deixaria para depois.

Aprenderia uma arte marcial,
veria muito mais a prova da banheira.
tocaria violão com meu avô,
buscaria mais coquinhos na sementeira.

Eu teria muito menos inveja,
ficar rodeado de bons amigos.
Voltaria a comer queijo minas,
e a gostar de doce de figos.

Andaria mais de bicicleta,
e no Rio de Peixes pescaria.
Acordaria todos os dias bem cedo,
buscaria o pão na padaria.

Mas será que vale a pena,
Viver neste pensar?
Ver o presente correr,
e no passado ficar?

Eis aí meu grande problema,
que ainda tento resolver.
Esquecer a máquina do tempo,
sem o meu passado perder.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Amendoim

Era uma vez uma menininha,
a qual queria ser um amendoim.
Ficar escondida entre uma casca,
presa em um escuro sem fim.

Ela dizia não ter sonhos,
pensava que isso era comum.
Um amendoim é sempre um amendoim,
e deles vou ser mais um.

Talvez ela não percebia
o quanto podia acertar.
Talvez fosse mais um medo,
de tentar se arriscar.

Mas isso nem ela sabia,
e ninguém pode prever.
Os dias não são iguais
e neles tudo pode acontecer.

E por um golpe do destino,
que ela dizia acreditar.
Conheceu um macaco estranho
com poderes de fazer sonhar.

E tão rápido se conheceram,
ela voltou a descobrir,
ser sonhadora era tão fácil,
como abrir o seu lindo sorrir.

E na casca do Amendoim,
flores começaram a nascer.
A menininha já não queria o escuro,
tomou gosto pelo o amanhecer.

Em um dia, ela voltou a sonhar,
como há muito tempo não fazia.
Ela agora anda por toda parte,
com o seu sorriso bobo, cheio de alegria.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sonhos de Teleco


Um macaco é um macaco,
isso não tem como mudar;
Mas Teleco era diferente,
ele podia sonhar.

Teleco não tinha asas,
ele flutuava com o pensar;
Sonhando ele ia longe,
voava para qualquer lugar.

Semana passada ele foi a marte,
ontem, ele viu um dragão;
Agora ele quer ir a Costa Rica,
conhecer um grande vulcão.

Ele tem amigos em todos os planetas,
foi chefe de uma nave espacial;
Todos diziam que Teleco era bacana,
um macaco muito especial.

Mas Teleco guarda um segredo,
destes que não se conta a ninguém;
ele tinha medo do mundo,
e apenas em seus sonhos ele ia além.

Mesmo com tantos sonhos legais,
o mundo de Teleco era sem sal,
Ele tinha tudo quando sonhava,
mas, não havia nada em seu mundo real.

sábado, 17 de julho de 2010

Ele e Ela.

Ele dizia sempre tudo,
ela fingia não escutar;
Ele tentou ver o mundo,
ela ficava no mesmo lugar.

Ele corria perigos,
ela não podia enfrentar.
Ele buscava suas chances,
ela parada no mesmo lugar.

Ele foi enganado pela sorte,
ela acreditou no azar.
Ele dormia seis horas,
ela não sabia quando acordar.

Ele conhecia lugares,
ela só podia olhar;
Ele podia escolher,
ela não sabia mudar.

Ele voava alto,
ela em pé nada fazia;
Ele era um passáro feliz,
Ela um poste sem alegria.

FIM

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Jeremias Bateu as Botas.

Lá estava o elegante Jeremias,
sempre alegre e a assoviar;
Mas mal sabia o pobre,
que o seu dia estava a chegar.

Jeremias era padeiro,
mas nunca havia feito um pão;
Queria ter sido marujo,
resolveu trocar de profissão.

Com essa ideia na cabeça,
correu para contar a sua família;
Vou conhecer o oceano,
e largar a padaria.

O espanto tomou conta de todos,
sua mãe não parava de chorar;
Jeremias como serás um marujo,
se você não sabes nadar?

Jeremias balançava os ombros,
fingindo nada entender.
Só que por dentro ele entendia,
que querer era poder.

Na fila do alistamento,
Jeremias era o mais varonil.
Sorria para todos que podia,
até para o cãozinho do canil.

Quando chegou a sua vez,
para o soldado ele foi falando;
Meu nome é Jeremias, senhor,
quero logo estar me alistando.

O Senhor fechou a cara,
e Jeremias se assustou;
Aqui nada é fácil meu amigo,
o soldado explicou.

Mesmo assim com muita garra,
Jeremias resolveu tentar;
Sonho é sempre sonho,
não posso viver se não arriscar.

E quando menos se esperava,
Jeremias já estava treinando;
Dava tiros, corria, nadava,
mas na cozinha ele foi parando.

E espantado Jeremias ficou,
quando percebeu o que fazia;
Ele era agora um marujo,
mas trabalhava em uma padaria.

Meu Deus mas que mundo ingrato,
Jeremias não parava de pensar.
De que vale correr tanto?
se não saio do mesmo lugar?


Os anos foram se passando,
e Jeremias não perdia a esperança;
Eu ainda vou para a guerra,
acredito e tenho confiança.

E Jeremias estava certo,
e o seu grande dia logo chegou;
Vamos todos lutar em uma guerra,
  o capitão do barco alertou.

Jeremias pegou sua farda,
calçou as botas e armou o seu fuzil;
Deixou a padaria pela última vez,
  e para guerra ele seguiu.

E no meio de tantos tiros e fumaça,
Jeremias não conseguiu se defender;
Foi atingido por uma granada,
já não tinha mais o que fazer.

Caído no chão,
sem como se salvar;
Jeremias fechou os olhos,
  e começou a recordar.

Recordou de sua mãe,
de seu pai, seus irmãos e todos que podia;
E em seu último suspiro ele sorriu,
lembrou como foi feliz em sua padaria.



FIM